sábado, 16 de janeiro de 2010

Atitude - Soneto de Márcia Sanchez Luz



Não gosto de falar do que é banal
nem sei gostar do paladar imposto
(que altera a face do sabor composto
da vida em sua forma natural).

Não gosto de falar do que é causal
se não puder sanar o mal exposto;
nutrir a dor que transfigura o rosto
é perigoso, além de irracional.

Na vida busco sempre alternativas
que me assegurem o pulsar das veias
e me garantam sobras, se à deriva.

Assim o vento chega como brisa,
a dor imensa fica suportável
e a causa do tormento se ameniza.


© Márcia Sanchez Luz

sábado, 2 de janeiro de 2010

Carinho literário de Clevane Pessoa


Poemeto

Seja sempre iluminada e iluminadora:
A Luz do sobrenome
seja capaz de iluminar
todos os dias e sonhos das noites
desse seu novo ano...
Brilhe seu nome,
suas poesias
de sua POIESIS,
alumiem-se suas asas para muitos vôos..

Clevane Pessoa, para Márcia Sanchez Luz.


Clevane querida, obrigada pelo delicioso carinho literário! Começar o ano assim é motivo de grande alegria para mim.

Um beijo carinhoso,

Márcia

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Feliz ano 2500


Igor Fuser*

Neste novo ano de 2500 já não há exploração e opressão de um ser humano por outro. Já não existem diferentes classes sociais. Somos todos iguais. Não há mais divisão entre povos, nações e raças. Não existe racismo, preconceito, intolerância, xenofobia, discriminação. Descobrimos que somos todos de uma única raça: a raça humana, vivendo em uma grande e fraterna comunidade global.

Já não existe também a diferenciação de tarefas entre sexos e a opressão sobre as mulheres e as minorias. Homens e mulheres estabeleceram um pacto de absoluta igualdade. Além disso, todos têm direito de fazer livremente suas escolhas individuais, mas aprenderam a voluntariamente respeitar a opinião coletiva.

A última guerra foi antes de 2050, nem lembramos mais como fazê-la, até porque as armas foram destruídas. Até o século XXI, alguns homens chamavam de bárbaros todos aqueles que não acompanharam seu modelo de sociedade assentado na desigualdade e na ganância. Contudo, com suas bombas, sua violência, suas matanças em massa, conseguiam superar em bestialidade seu mais rude antepassado. Hoje, no entanto, reina a paz. Os homens se convenceram de que a sobrevivência da civilização dependia da cooperação e não da competição.

Aqui em 2500 já não temos mais fome, miséria, gente sem teto ou sem assistência, lutando por um prato de comida, por um simples casaco para se agasalhar, um buraco para viver ou dormir, uma vaga na escola; enfim, o homem se libertou da milenar ditadura do reino da necessidade, da escassez. Todos ajudam a todos.

É que a ciência, a tecnologia e a racionalização da produção avançaram a tal ponto que possibilitaram o atendimento de todas as necessidades humanas, com uma grande redução do tempo de trabalho para todos, que agora podem se dedicar a coisas mais nobres, como a educação, a leitura, a música, o cinema, o teatro, os amigos etc. São poucos os que não concluem a universidade.

E tudo isso foi possível sem violentar mais a Natureza e preservando as demais formas de vida no planeta. Descobrimos todos que não estamos sozinhos na Terra e que não temos o direito de destruir, unicamente para nossa satisfação, as demais espécies, muitas das quais estavam aqui bem antes de nós.

As fábricas, os automóveis, os aviões, hoje mais eficientes, já não poluem. A época na qual predominavam os combustíveis fósseis acabou faz tempo. Na verdade, preferimos mesmo é andar nos eficientes e limpos transportes coletivos e caminhar sob a copa das árvores para ir ao trabalho ou à escola. O ar é tão puro que até vemos as estrelas nos céus das grandes cidades.

A população mundial caiu progressivamente desde o ano 2050 e hoje não passa de três bilhões de seres. E como não se produz mais apenas para vender, para obter lucro, mas exclusivamente para atender ao uso humano, já não é preciso desmatar e muitas florestas foram recompostas. Com tudo isso, espécies animais antes ameaçadas de extinção voltaram a ter sua população aumentada. Os peixes retornaram aos rios antes poluídos das grandes cidades.

Aqui em 2500, os velhos valores consumistas do início do milênio foram substituídos por uma cultura diferente, superior, de modéstia e parcimônia. O que move a sociedade humana já não é a busca desenfreada pela riqueza, a ganância, o prestígio, mas sim a solidariedade entre todos e o bem coletivo. Excetuando os artigos de uso pessoal, as residências, os econômicos automóveis, quase toda a propriedade é coletiva. Os seres humanos descobriram que valem pelo que são, pelo que sabem, e principalmente por como tratam seus semelhantes, e não pelo que têm ou vestem.

Em 2500 também não há mais divisão funcional entre aqueles que pensam e decidem e aqueles que apenas cumprem ou executam as tarefas. Não há mais subserviência, medo, nem opressão. Todos decidem em igualdade de condições sobre aquilo que deve produzir ou fazer a sociedade. Até conseguimos viver sem chefes. Existe democracia real, não formal. A tecnologia nos conectou e aproximou a todos. Mesmo a colônia humana estabelecida em Marte tem participado das decisões.

Mas chegar aqui não foi fácil, a luta foi dura, custou muitos sacrifícios e até a vida de muitos. A resistência das forças conservadoras e irracionais foi grande. Até 2050, as guerras, a xenofobia, a forma irresponsável de exploração da Natureza, o aquecimento global, as doenças, o interesse mesquinho das corporações e dos grandes capitais colocou a humanidade à beira da autodestruição, do inferno nuclear, do retorno à barbárie dos guetos, dos campos de concentração, dos gulags.

Escapamos por um triz. Nossa espécie conseguiu derrotar aquelas forças representantes da pré-história e da ignorância humanas, abraçar outros valores e encontrar o caminho até aqui. Evidentemente, além dos conservadores, dos privilegiados, sempre houve os incrédulos, os céticos quanto à possibilidade de um outro mundo.

Felizmente, desde os primórdios da civilização sempre existiu quem defendesse uma cultura diferente. Não sei bem como se chama a sociedade em que vivo, deixo ao leitor dessa mensagem classificar. No entanto, sabemos hoje, em 2500, que sociedade anterior, na qual ainda predominavam o individualismo e o egoísmo, se chamava capitalismo.

Mas foi por volta do ano 2010 que muitos perceberam os perigos, saíram da inação e começaram a ativamente construir um mundo novo, a agir diferente. Por isso, numa máquina do tempo, voltei de 2500 para observar a virada do ano de 2009 para 2010. Era curioso. Ao ritmo do fuso horário, nas cidades em volta do mundo eles explodiam lindos fogos, confraternizavam. No meio de tanta confusão daqueles tempos, aquelas comemorações lembravam que poderíamos um dia ser um único mundo, uma única raça.

Apesar da brutalização do corpo social na época, pude constatar que, em certos momentos, nossos antepassados do século XXI ainda eram capazes de se emocionar, de chorar de alegria, de se encantar, se enternecer. Sem que soubessem de que época eu vinha fui até carinhosamente abraçado por alguns deles que estavam ao meu lado.

Antes regressar ao futuro, ali, numa praia do Atlântico, ofuscado pelos fogos, percebi que o grande projeto humano ainda era viável e como a vida é bela e valiosa. Agradecido a todos aqueles que ajudavam a construir meu belo mundo em 2500, desejei a todos eles um FELIZ 2010.


*Igor Fuser é doutorando em Ciência Política na USP, mestre em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação Santiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP), jornalista formado pela Cásper Líbero e Professor de Filosofia e Economia.