segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Soneto de Luís Vaz de Camões


Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Um comentário:

  1. AMOR

    Acróstico-didático nº 781
    Por Sílvia Araújo Motta

    A-“Amor é um fogo que arde sem se ver...”
    M-Mas se é um sofrer, não amar é sofrer mais...
    O-O “Amor é dor que desatina sem doer...”
    R-Reconhecido punhal que tem dois gumes fatais.

    A-Amor verdadeiro compreende fraquezas.
    M-Manifesta por palavras e obras, sem justificá-las.
    O-O amor valoriza qualidades, com certeza,
    R-Reconhece, respeita, aceita, sem lisonjeá-las.

    A-Amor constrói e edifica a paz.
    M-Mas o ódio destrói o sabor e o cheiro...
    O-O que semeia lealdade torna-se capaz de
    R-Recolher o amor que a felicidade traz.

    A-Amor no tear da Sabedoria,
    M-Mais tece a lição da boa messe,
    O-o amor embaraça a hipocrisia,
    R-Reconhece o homem que cresce.

    A-Amor é escolha, é opção,
    M-Mais do que perdão traz,
    O-O amor na fraterna doação,
    R-Recusa-se ao bastão de Satanás.

    A-Amor tem íntimas formas
    M-Materno, fraterno, filial...
    O-A amor também tem normas
    R-Revelação carnal, sexual.

    A-Amor ensina a perdoar,
    M-Mas ter liberdade e estima,
    O-O Dom sabe colocar
    R-Reciprocidade acima.

    A-Amor exige pureza,
    M-Merece autenticidade,
    O-O preço tem, com certeza:
    R-Realiza-se na plenitude.

    A-A luz-universalidade
    M-Molda o amor universal,
    O- O equilíbrio e a harmonia
    R- Ressuscitam o ser total.

    A-Amor conhece a Verdade,
    M-Morre aos poucos, se traído,
    O-Ao morrer, vê que a saudade
    R-Retém o tempo vivido...

    Belo Horizonte, outubro de 2006.

    Nota:
    a)Em “Os Lusíadas”, o gênio de Luís Vaz de Camões usa o vocábulo
    AMOR e cuida de Vênus, a “amorosa estrela” e “deusa do amor, a diva mais dedicada aos Portugueses...”

    Estância 85 do Canto VI (...)
    “Mas já a amorosa estrela cintilava...)

    b) Ao longo dos 8816 versos clássicos de “Os Lusíadas, Camões adotou adotou oitenta vezes a palavra AMOR, com vária plástica semântica.

    c) A principal causa dos sonetos de Camões é a dialética AMOR E DOR.

    ---***---

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