segunda-feira, 28 de novembro de 2011

(Des) União


© Márcia Sanchez Luz



(img: Womenstudio - Christian Coigny)



Como é que eu posso amar-te assim, meu bem,
se quando estou contigo não te quero
e quando tu te ausentas eu te espero
e sonho que no amor não há desdém?

Chegas faminto, imploras, me diz – “Vem,
preciso de teu corpo” – em desespero.
Sei bem que é grande a fome e que és sincero,
mas isto é pouco. Quero amor também!

Sei que é difícil constatar o fato
de que a distância nos faz mais amantes
do que é possível quando estamos juntos.

Não sei como lidar com o que constato!
Se estamos próximos, mas tão distantes,
por que continuamos, me pergunto.

domingo, 2 de outubro de 2011

Solidão dos quereres

© Márcia Sanchez Luz


(Img: Lucidez, de Gustavo Saba)


A dor que te sufoca é também minha,
assim como este amor que não tem fim.
negar a mágoa pode ser ruim
pois que disfarça o adeus que se avizinha

e assusta o corpo quando estou sozinha.
Constato que o querer é sempre assim
e canso-me de ter somente em mim
paixão que por si só me desalinha.

Fechar-me não seria a solução
(seria tão somente paliativo)
para o que sinto e que me faz morrer

a cada instante deste meu viver.
Mas eu preciso achar algum alívio
porque além da razão, sou emoção...
 




sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Flor Anciã - soneto de Márcia Sanchez Luz

© Márcia Sanchez Luz


(Img: Eros e Psique - Antônio Canova)





















Espero-te em meu barco de manhã,
depois que a brisa e o canto se encontrarem
e te contarem sobre a flor anciã,
que fez meus olhos toda a dor secarem.

Espero-te em silêncio, no amanhã,
depois que a sombra fria e o ardor findarem.
E que tu venhas me encontrar, Titã,
mesmo se sol e lua te ofuscarem.

Então eu poderei de amor falar!
E nem que seja só por um instante,
bastar-me-á que saibas me escutar.

E vais me compreender e me beijar!
Da flor anciã guardei esta semente,
para que sintas Eros te embalar.

*Do livro "Porões Duendes"

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Spleen


© Márcia Sanchez Luz

(Imagem: Elegance, de Itzchak Tarkay)






 















Por que vivo com saudades
de quem jamais encontrei?
Será que existe uma lei
que impeça a festividade

no encontro de afinidades?
A vida é cheia, bem sei,
de tristezas. Já vaguei
atrás da felicidade

e nunca pude encontrar
no ar, na terra ou no mar,
um sentir tão fragoroso

que, mais que o amor, é gostoso
(pois brejeiro e misterioso)
como a brisa a me afagar.

sábado, 2 de julho de 2011

Turbilhão no céu - Soneto de Márcia Sanchez Luz


Imagem: Young World, Inga Nielsen


O céu estava assim, sem desencontros:
pariu o sol e a lua em pleno dia,
mostrou a criação que contagia
e não deixou de achar que estava pronto

para fazer da tarde, mais que encontro,
um turbilhão de cores e magia,
como se fora aberta galeria
a quem quisesse olhar de longo a longo

a vida escrita pela natureza.
Foi como o despertar de uma esperança
que morta se mostrava. Era a beleza

expondo seu vigor, toda a pujança
(tão própria de quem luta e sempre brilha)
pois que é imortal guerreira e não se cansa!


© Márcia Sanchez Luz



sábado, 18 de junho de 2011

O SOL DA MEIA-NOITE...

Imagem do Google











Com você,
cada manhã
é um novo susto.

© Márcia Sanchez Luz

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Cantiga para aliviar a dor


Img: Espanha, Salvador Dalí






















Teu sofrimento dói em mim também,
mas teu sorriso me faz rir da vida,
ter esperança que há de haver saída
para a tristeza que nos faz reféns

de nossos pares que por vezes nem
nos olham com os olhos de acolhida
que tanto precisamos. É dorida
a falta do carinho de outro alguém!

Cuido de ti, prometo que não vais
sofrer na escuridão, chorar de dor
nem quando a morte der os seus sinais.

De solidão, eu nunca vou deixar
sentires frio, sob o cobertor:
sempre estarei aqui pra te afagar.


© Márcia Sanchez Luz

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Partitura


WomenStudio_104 - Christian Coigny






















Sem mim, amor, eu sei que sentes frio.
Quando estou perto, abraço-te em meu peito
e deixo que me afagues do teu jeito
até que nos tornemos um só rio

imenso, cor violeta, luz, delírio!
Podemos contemplar de nosso leito
o brilho que irradia o som perfeito
da melodia escrita em desvario.

Por horas em silêncio nós ficamos
a recordar aquele breve instante
de amor intenso, cavalgar pulsante

de corpos que se perdem da razão.
Agora sei que é o fim da escuridão
que tanto nos tomou de desenganos.


© Márcia Sanchez Luz

segunda-feira, 14 de março de 2011

Poeta - soneto de Márcia Sanchez Luz



Imagem: Márcia Sanchez Luz



Sou da palavra a chama que descreve
e alisa e abraça as causas mais diversas.
Se for de outrem a dor que não prescreve,
faço-lhe minha amante mesmo em trevas.

Se acaso o sopro me lançar à verve
de uma cantiga envolta em densas névoas,
deixo a cadência se verter bem breve
e transformar em flor dores primevas.

Mas se no equívoco da fantasia
eu acordar de um sonho desvalido,
não vou chorar – conheço a ventania!

Sei que adiante a luz que outrora havia
vai ressurgir até no amor premido
por uma febre ardendo em demasia.


© Márcia Sanchez Luz

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Acalanto


The Bridge - Inga Nielsen


Eu amo como quem deita no chão
e fica olhando estrelas no relento.
A calma chega em forma de acalento
e assim me entrego inteira a uma ilusão

de que aguardar-te não vai ser em vão.
Bem sei que tu me queres e, sedento,
nem vais me perguntar se espero o vento
trazer-me a paz em forma de canção.

Por vezes este amor me varre os dias
como uma tempestade em pleno estio
a me afogar em medos e fobias.

Por outras ele acorda meus instintos,
me faz valente, sem temer o frio
das noites invernais de afetos findos.


© Márcia Sanchez Luz