© Márcia Sanchez Luz
(Img: Soyez Mystérieuses - Paul Gauguin) |
Com quantos paus eu faço uma canoa
que ao mar me entregue? Quero só sonhar
na noite que me alenta e a dor escoa
sem que ninguém me apresse o despertar.
Bem sei que a tempestade vai chegar
e medo ou covardia não perdoa.
Porém não posso desejar que o mar
simule a mansidão de uma lagoa.
Existe o risco de não ser possível
voltar à terra firme e aí então
terei até o fim por companheiras
estrelas. Sei que a paz, sempre aprazível,
vou encontrar e, livre de aflição,
a vida será leve e alvissareira.
Márcia, querida poeta! Eis um soneto pleno de beleza estética e muito bem construído, segundo as regras do soneto clássico. Chamam a minha atenção as rimas ricas que se apresentam meticulosamente ornadas em todo transcorrer da peça poética... É de ressaltar, também, o "enjambement" (ou cavalgamento) que ocorre no primeiro verso do segundo terceto, que, mesmo com a utilização deste recurso, não chega a afetar profundamente a ritmação, nem o "tonus" poético. O único reparo passível de ser feito aos versos é a rarefeita codificação do conteúdo, devido à rala utilização das figuras de linguagem, especialmente a metáfora, e, sem elas, não há a se falar, a rigor estético, em Poesia. Sim, porque há versos com e sem Poesia, em toda peça poética, ainda mais no esforço de criação que o SONETO em si representa; exemplar que, além do primeiro momento criacional da inspiração, exige um segundo, a transpiração, no qual prevalece a intelecção, forte no intuito de construção da peça com silabação fônica e as rimas, sobre as quais já me referi. No entanto, a tentativa de construção da imagética se dá de maneira muito natural e escorreita... Parabéns à autora. Agradeço a remessa da peça a mim, que me enlameio nas veredas da Poética... O poetinha Joaquim Moncks.
ResponderExcluirhttp://www.recantodasletras.com.br/autores/moncks
"O único reparo passível de ser feito aos versos é a rarefeita codificação do conteúdo, devido à rala utilização das figuras de linguagem, especialmente a metáfora, e, sem elas, não há a se falar, a rigor estético, em Poesia."
ExcluirCaro Moncks,
estranhei bastante este seu comentário porque a cada verso do meu soneto, praticamente, há uma metáfora, veja:
Com quantos paus eu faço uma canoa
que ao mar me entregue?
Este mar é metafórico, o personagem do meu poema não sairá mar adentro.
Quero só sonhar
na noite que me alenta e a dor escoa
A noite não alenta ninguém, nem a dor verdadeiramente escoa. Outra metáfora.
sem que ninguém me apresse o despertar.
Bem sei que a tempestade vai chegar
e medo ou covardia não perdoa.
Na realidade, nem a tempestade chegará e, mesmo que ela chegasse, tempestade não tem o dom de perdoar. Outra metáfora.
Porém não posso desejar que o mar
simule a mansidão de uma lagoa.
Novamente esta comparação é metafórica, pois o mar aqui expressa os sentimentos íntimos.
Existe o risco de não ser possível
voltar à terra firme
Outra metáfora, já que o personagem nunca viajou ou excursionou por nenhum oceano.
e aí então
terei até o fim por companheiras
estrelas.
Outra metáfora, porque as estrelas só são companheiras se assim as considerarmos, já que não têm fala verbal ou mímica.
Sei que a paz, sempre aprazível,
vou encontrar e, livre de aflição,
a vida será leve e alvissareira.
Com seis metáforas em catorze versos, minha pergunta ao criar o soneto residiu justamente no temor do contrário: não teria eu usado tropos demais?...
"Sim, porque há versos com e sem Poesia, em toda peça poética, ainda mais no esforço de criação que o SONETO em si representa; exemplar que, além do primeiro momento criacional da inspiração, exige um segundo, a transpiração, no qual prevalece a intelecção, forte no intuito de construção da peça com silabação fônica e as rimas, sobre as quais já me referi. No entanto, a tentativa de construção da imagética se dá de maneira muito natural e escorreita... Parabéns à autora. Agradeço a remessa da peça a mim, que me enlameio nas veredas da Poética... O poetinha Joaquim Moncks.
http://www.recantodasletras.com.br/autores/moncks"
No mais, obrigada por sua análise teórica retórica, fiquei contente em saber que minha poesia, para você, fluiu escorreitamente e que o enjambement não afetou o material conteudístico do soneto. Utilizo e gosto muito deste recurso poético, talvez por estar muito familiarizada com este tipo de ruptura da unidade sintática através do exercício de minha dupla profissão: a de professora de idiomas e a de tradutora de francês e inglês.
Grata pelo seu retorno,
cordialmente,
Márcia Sanchez Luz
Excelente soneto, Marcinha! Falar mais seria coisa de puxa-saco. Abraços. Je t'aime!
ResponderExcluirGratíssima, Cicero, pelo zelo acerca do soneto.
ExcluirMárcia
Querida Márcia: a sua poesia pede para ser lida em voz alta; isso acontece porque você revela o direito de sonhar e a sua mansidão na escrita. Parabéns por mais um soneto caprichado. Paz e bem, Graúna
ResponderExcluirMinha Grauninha querida, tenho muitas saudades de você! Fico feliz demais por sentir assim minha poesia. Obrigada por ter vindo e pelo carinho de suas palavras, como sempre.
ExcluirBeijos carinhosos
Márcia
Beleza, Márcia! Gostei! É sonoro, bom de dizer, e deslisa da dúvida à esperança.
ResponderExcluirBjs.
Que bom que gostou, Caio! Obrigada por ter vindo.
ExcluirBeijos
Márcia
Amei,há muitas expressões superpoéticas que são únicas, só do seu soneto.
ResponderExcluirsaúde e paz
Angela Togeiro
Angela, é um enorme prazer recebê-la neste espaço! Obrigada pelo carinho de suas palavras. Volte sempre!
ExcluirBeijos
Márcia
Cara Márcia, talvez a poesia esteja além do regramento: como constato na leitura desse seu poema. A continuidade na permanência da ideia com que seu começar evidencia em andamento a sua conclusão. Abraços, Pedro.
ResponderExcluirGrata pelo carinho e apuro de sua leitura, Pedro.
ExcluirAbraços
Márcia
Olá Marcia! Mais um belo poema, soneto. Parabéns.
ResponderExcluirRealmente as estrelas são nossa eternas companheiras.
Um grande abraço e sucesso.
J.Hilton
www.josehiltonrosa.recantodasletras.com.br
É verdade, José Hilton. Basta olhá-las para que chegue o alento...
ExcluirObrigada por sua visita.
Abraços
Márcia
Márcia,
ResponderExcluirEstava com saudades de teus sonetos. Em meio ao mar de mediocridades que nos cerca, é muito bom encontrar uma canoa que nos leva para águas mais fartas e abundantes em produção da boa literatura.
Parabéns!
Paulo
E eu com saudades de sua presença no blog, Paulo. Obrigada por ter vindo e pelo gentil comentário.
ExcluirMárcia
Belo soneto com a marca registrada de Márcia Sanchez Luz. Sou seu fã!
ResponderExcluirGrata, Tércio. É sempre um prazer receber sua visita a este espaço.
ExcluirMárcia
O mar como fuga definitiva de quê? Talvez do mundo sem lugar pra poesia e sonho, imaginação e entrega. Comentar um poema é quase sempre desrespeitá-lo, mas viajar nele é um convite que você sempre faz, levando o leitor mar a dentro.
ResponderExcluirÉ por aí, Aracéli... Quanto a comentar, você o faz com muito respeito e delicadeza, além da inteligência e sensibilidade sempre tão presentes em suas palavras!
ExcluirObrigada, minha querida, por todo seu carinho.
Beijos
Márcia
Muito bom e expressivo o novo soneto de Márcia Sanchez Luz. Com versos muito bem construídos, ela consegue manter a alta qualidade dos trabalhos que compõe. Parabenizo-a, pois, pela beleza de tudo que
ResponderExcluirescreve.
Humberto Rodrigues Neto
Obrigada pela gentileza de seu comentário, Humberto.
ExcluirAbraços
Márcia
Sempre o espetáculo poético de Márcia!
ResponderExcluirFabbio Cortez
Fico muito feliz com sua presença, Fabbio. Grata pelas palavras, poetamigo.
ExcluirDê um beijo em sua esposa e filhos.
Márcia
Sempre nos encanta....
ResponderExcluirBeijo Lisette.